terça-feira, 8 de julho de 2008

Padrões de Beleza!


Os distúrbios alimentares sempre suscitaram a minha curiosidade.
Não os distúrbios em si, mas o processo que leva as pessoas a entrarem em areias tão movediças e traiçoeiras onde o preço de ficarem presas e com mazelas gravíssimas é demasiado alto.
As mulheres, em especial, adolescentes são, obviamente, um grupo de risco. Aceito-o como dado adquirido porque existem demasiados factores que contribuem para isso.
A televisão exige magreza, quanto a mim até promove magreza excessiva, anoréctica, recentemente, numa noite de insónia, enquanto fazia zapping vi uma co-apresentadora de um concurso que me fez fixar o olhar. Uma, duas, três vezes. Cheguei a pensar se seria a visão enevoada ou se estava mesmo a ver bem. Não me deixou indiferente.
As agências, revistas e profissionais de áreas distintas que impulsionam e seleccionam modelos, actores e actrizes, os próprios cantores, quase todas as pessoas socialmente expostas tornaram-se promotores da magreza como condição obrigatória para serem aceites, vitimizando-se e vitimizando a sociedade. Vou dar um exemplo demasiado evidente, mas quantas piadas se ouvem da Simara? Há uns anos atrás, quando a Ana Malhoa engordou foi avacalhada, felizmente, não sofreu do preconceito do “gordo uma vez, gordo sempre”, transformando-se num ícone sexual (será?) mas quantas manchetes saíram quando a Britney Spears alargou, como diz o Herman? Ou da Mariah Carey? Da Jennifer Love Hewitt quando surgiu em biquini com uns quilinhos a mais? Da top model sueca, Karolina Kurkova , que desfilou no Brasil e foi alvo de criticas avassaladoras que povoaram “n” de blogues e alimentaram revistas, por estar acima do peso e com celulite? Das formas roliças da Mónica Sintra que a levou a anorexia e bulimia, muito provavelmente, por causa das críticas e dos padrões que a sociedade considera aceitáveis?
As crianças de tenra idade são cruéis nos adjectivos. Gorda, balofa, bucha, banhas, baleia são palavras comuns e há quem ache graça. É feita exclusão social. Riem, criticam e matam personalidades em formação, causando feridas de cicatrização lenta.
Na pré adolescência, já comentam que estão gordas, já controlam a comida no prato, ou melhor já a racionam exageradamente. Aos 10 anos as crianças em vez de brincarem, viverem e aproveitarem essa etapa maravilhosa das suas vidas, começam uma luta que durará a vida inteira. Sou apologista de que quando temos tudo à mão, é mais fácil abdicar do que nos faz mal. Se uma criança provar sem censura um chocolate, batatas fritas ou comida de plástico, sem fazer disso, obviamente, dieta diária, é natural que os alertas por parte dos pais e educadores funcionem melhor, porque já não existe o conceito do fruto proibido, do pecado, da bomba calórica, do tabu. Numa fase em que as crianças, pulam, brincam e rebolam, queimam calorias non-stop é um crime iniciá-las nesta batalha cruel.
Na adolescência, acentua-se o problema, para além da competição que surge, naturalmente, entre as raparigas, a mais bonita, mais atraente, mais bem vestida, mais senhora, mais popular… os rapazes acabam por entrar na onda porque querem ser aceites por elas, uma vez que as hormonas pululam.
Estes, são menos expostos porque as famílias estão mais desatentas, pois não esperam isso de um rapaz e porque eles disfarçam melhor. Ainda existe o conceito errado de que os homens não são afectados pela tirania dos padrões de beleza!
Mas o que mais me chateia, o que mexe mesmo comigo, é quando o incitamento começa ou se prolonga em casa.
Se um(a) adolescente vê a mãe ou o pai, a servirem-se como se fossem pássaros, se assiste à escravidão dietética de um membro adulto da família, se observa a ditadura do corpo perfeito (??), se vê que a mãe controla o prato do pai, se após um dia de patuscada forçada, como uma festa, se segue uma semana de jejum, o adolescente vai copiar, vai absorver, vai assumir esse comportamento como seu, vai incentivar e fomentar essa forma de estar, porque os pais devem saber o que é melhor para eles, porque são os modelos da sua vida, os seus orientadores... não dizem, que a educação começa em casa?
Numa festa de aniversário há poucos dias, ouvi uma mãe a contar, babada, a peripécia da filha de 3 anos. Dizia que a criança tinha visto um comercial do gelado Mars na TV e que pediu à avó para lhe comprar um. A avó disse que não, que engordava muito. Quando visionou novamente o comercial, a criança apontou o dedo para a televisão e disse: “Come merda, que isso engorda!”
Provavelmente, o argumento da avó não passou de uma desculpa, mas será que a criança não podia provar o gelado, sem fazer desse desejo a maçã-de-adão e Eva, sem ser bombardeada com excessos de calorias tão novinha?
Por isso, é que quando vejo uma mãe, a dizer para a filha de 12 anos, que tem um peso normal para idade e altura, que está muito gorda e que está a fazer “cenas” faz vir o pior de mim à tona e desejar que essa mãe fique presa nas areias movediças sem grandes malefícios, ou se forem grandes, que sejam reversíveis, porque ser mãe está muito longe deste tipo de atitudes que além dos distúrbios alimentares que pode desencadear na filha, parte em pedacinhos a auto estima, o amor-próprio, a segurança, o carisma, a personalidade.
E é nestas alturas que me rio das vezes que malfadei a minha mãe por me dizer: “Tira! Tira mais um bocado! Vá, eu sei que te apetece, eu sei que tu comes…Tira! Se não tiras ponho-te eu no prato!” E vencendo-me, vencendo os que se sentam à mesa lá de casa, pelo cansaço, todos tiram, nem que as mentes menos esclarecidas passem a semana seguinte a chá verde ou o resto de dia ajoelhados na casa banho, como, infelizmente, já aconteceu!

Sem comentários: