terça-feira, 8 de julho de 2008

Pimenta na língua!


Não sou uma mulher púdica, cresci no meio de mulheres por causa da profissão da minha mãe. Adorava em miúda, sentar-me muito discretamente num cadeirão, a fingir que lia uma revista, quando ainda nem tinha idade para ler, com o objectivo de escutar as conversas femininas.
Ao sábado de manhã acordava com as gargalhadas das mulheres, livres de preconceitos, dos olhares avaliadores dos homens e dos juízos de valor da sociedade, ficava horas encostada à porta, imóvel, para não perder pitada, uma vez que algumas senhoras se inibiam de usar alguns termos, que eu tanto apreciava se estivesse presente, outras a euforia era tanta que nem davam por mim.
Não sei se toda a gente tem essa percepção, mas as mulheres, a partir de uma certa idade, perdem todos os tabus no que se refere a sexo e rapidamente a tertúlia só foca assuntos sexuais.
A ideia de que antigamente ia tudo imaculado para o casório, perdeu-se quando tinha uns 10 anos de idade, quando ouvia as senhoras dizer que nos campos de milho é que era, que nem usavam cuecas, que era numa Sachs e ate numa baliza de futebol (!!) aos 12 descobri os devaneios de uma agricultora ninfomaníaca que me faz olhá-la com ar de gozo até hoje. Constava que a senhora quando ia para o campo, o marido tinha de lá ir visitá-la 2 a 3 vezes durante a manhã porque ela não aguentava tanta hora de jejum!!! E quando chegava lá era um ver se te avias com muita ou pouca privacidade.
Cresci e tornei-me mulher ao escutar que “aquilo é que é bom” seguido de umas risadas nervosas, do desempenho sexual de muitos maridos que pelo grau de intimidade só era comentado em privado, das avaliações do tamanho e grossura dos órgãos genitais masculinos e das mais variadas denominações como: pila, piroca, piça, pixota, pirilau, faz-me rir, pau e pénis, pois claro e aos amiguinhos era mais comum serem chamados de tomates, colhões, quilhões e por aí fora!
As histórias hilariantes do casa-descasa, do marido infiel, da beata que durante nove meses camuflou a gravidez e à ultima hora pediu um táxi para a levar às urgências e saiu de lá com uma filha nos braços, das amantes que serão sempre amantes, dos fetiches de alguns homens, da mulher que dizia que nada mais punha o marido em "ponto caramelo" do que passar os cabelos pela barriga dele (wow), fizeram sempre parte do meu crescimento.
Adorava quando à noite, no silêncio, a minha mãe repetia as histórias ao meu pai e, numa cumplicidade que só eles têm, riam-se do alheio e usavam uma espécie de private jokes sempre que o assunto vinha à baila para não molestar a minha inocência, violada há mais que muito pela minha curiosidade!
Confesso que não teve qualquer efeito nefasto na minha formação como pessoa, e que o facto dos meus pais relativizarem os assuntos e da minha mãe lidar tão bem com isso, como se estivesse a falar da coloração mais apropriada para o tipo de cabelo, não me fez uma rapariga ávida de prazeres carnais e desejosa de experimentar os campos lá da zona. Bem pelo contrário, fizeram desaparecer inúmeros preconceitos e ensinaram-me aceitar a maneira de viver de cada um, pois normalmente existe sempre uma razão que a justifique. Seja como for, ainda existem coisas que me fazem corar até às pontas dos cabelos.
Estava eu "enlatada" numa multidão, a assistir a uma romaria, arrastada por uma amiga com promessa a cumprir, quando ao passar a imagem da Santa, vejo uma senhora afoita a passar por entre a procissão e a entregar dentro de um saco uma camisa limpa ao marido que vinha transpirado devido à longa e árdua caminhada perante o sol abrasador, quando ouço uma mulher, toda emperiquitada, daquelas que estão bem é a fazer de jarro, porque quando abrem a boca é uma valha-nos Deus, a dizer assim: “Oh C., o teu home(m) é que vai amarelo, aposto que o chupaste todo ontem!” Isto não foi segredado, num tom de provocação, foi GRITADO para a senhora que ainda estava perdida no meio dos romeiros. Escusado será descrever a cara de espanto dos presentes e algumas bochechas rosadas de senhoras mais recatadas, pelo menos em público. Eu e a minha amiga, prendemos uma gargalhada e coramos, mas não tanto quanto a C., coitada.
Mais tarde, já de saída, encontro uma senhora, afamada pela linguagem vernácula, que a meio do discurso me surpreende, dizendo: “Sabe Leona, eu tenho um irmão polícia que tem a mania que gosta de tudo muito direitinho, não gosta que eu diga asneiras e eu quando o quero provocar, digo-lhe que a minha fantasia sexual é pinar com um polícia em cima de uma mota e que qualquer dia compro uma farda de policia para o meu marido e vamos dar uma foda na mota dele”!
( Eu juro, que isto é verdade, palavra!) Tirando a palavra “pinar” que retira todo o erotismo ou sensualidade do acto, por me fazer lembrar os tempos da escola primária em que os rapazes se viravam para as raparigas e perguntavam: “Já pinaste?”. Já estava pronta para relevar para segundo plano este episódio quando reparo que atrás de mim, estavam dois polícias fardados a rigor a orientar os peregrinos e o trânsito!!! Apesar de terem ouvido a conversa que me cheirou a provocação ou a desafio, os dois agentes, felizmente, foram discretos quando o meu olhar se cruzou com o deles e depois de uma despedida meio desastrada, eu e a minha amiga desatamos a rir até ao carro. E estávamos nós num lugar de culto. Imaginem num salão de cabeleireiro em hora de ponta!

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